domingo, 29 de agosto de 2010

ego

Enquanto buscamos destaque em novas áreas, deixamos de lado nossas raízes e criamos um exército de excêntricos sem essência. Pessoas programadas para sorrir das mesmas piadas, que de tanto buscar um diferencial acabaram num processo de massificação. Até em nossas revoltas somos facilmente enquadrados em algum grupo já determinado. Isso tanto acontece por excessivas e desnecessárias delimitações quanto pela nossa necessadidade já inconsciente de integrar algum clã. Condicionamos nosso raciocínio a se limitar e fechamos a porta na cara das oportunidades de desenvolvimento, individual ou mútuo. Mesmo minhas palavras oriundas de um privilegiado conjunto léxico se tornam mesmices quando repetidas sem contexto, visando apenas impressionar. A vida não é isso. Extrapolar limites deixa de ser uma violação e acaba se tornando uma obrigação nesse mundo tão orientado a restrição. Liberdades aparentes não convencem nem satisfazem o ego daqueles que tem a mínima noção do que é ser livre. É um pecado associar essa expressão a infrações e desrespeito quando ela apenas expressa a possibilidade de vivermos despidos de qualquer máscara, sem carecer de maquiarmos a nossa verdadeira existência. Significa poder não ter vergonha de se comportar diferente, não temer a exclusão por parte dos tolos e compreender que eles não são, nem de longe, os melhores referenciais que podemos conseguir. Não apoio caminhar na contra mão, mas considero extremamente válido fazê-lo caso isso esteja na rota do caminho que você escolheu. As pessoas são facilmente convencidas, seja pelos tantos pontos fracos distribuídos por suas histórias quanto pela obrigação que elas se impõe de aceitar ou fingir compreender argumentos de boa oratória. As aparências ainda reinam e são capazes de mediar as trocas entre lebres e coelhos distribuindo vantagens mesmo que aos falidos. A enganação é frequente e só percebemos seus malefícios quando somos nós os enganados: caso contrário, sequer notamos sua ocorrência. Outro grande problema que carregamos é de buscar o individualismo nas horas em que ele menos se aplica. Ou simplesmente ignorar a prática da reciprocidade e só manifestar interesse coletivo quando esse coincidir com o seu próprio. Somos egoístas por natureza e egocêntricos por habituação. Quando posto dessa forma, parece não haver solução para os males do mundo, e talvez realmente não haja. No entanto, se ainda lhe restarem esperança só não se esquece de que agravá-los em hipótese alguma te ajudará a sanar o problema.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

venha ver.

Um evento que se repete dia após dias, em horários e movimentos quase idênticos e que ainda assim arranca suspiros e rouba minutos preciosos das rotinas frenéticas. Como não invejar o pôr do sol ? Pra quem nunca teve a oportunidade de prestigiá-lo, trata-se de um fenômeno que supera minha capacidade de expressão. É apenas a simplicidade com a qual o astro maior de retira de cena, como quem se despede com a sensação de dever cumprido. Por mais lindo que seja, eu sempre venho mal intencionada ao falar de coisas cotidianas: você conhece o seu sol?Particularmente, muito me agradaria se a cada dia minha rede de amigos fosse recheada com personalidades novas, cheias de histórias pra compartilhar e outras que ainda estão para ser vividas. Mas, na amarga realidade, o que acontece é que a maior parte do nosso tempo passamos com rostos familiares, de vontades e defeitos mais que decorados. São pessoas simplórias ou muito sofisticadas, que de tão comuns só evidenciam sua presença quando esta não existe. Corpos e almas que vem e vão todos os dias das páginas do nosso diário, e que tem a dor da partida compensada pela certeza do retorno. Invejando o trajeto da estrela incendiada, se guardam quando tem que ser e nos deixam uma gostosa expectativa de sentir novamente seus raios no dia seguinte. As vezes nos irritam, são incovenientes e aparecem quando não queremos vê-los. Mas nos dias em que se escondem atrás das nuvens de problemas, fazemos de um tudo para que voltem com força total a reluzir em nosso caminho. É uma dura lição tem que lidar com a partida das coisas que nos alegram, na esperança de que retornem, mas com a possibilidade de que deixem nossos dias para sempre nebulosos. O mais legal disso tudo é saber que podemos cultivar vários sóis diferentes, para que um ilumine no lugar do outro sempre que necessário. Jamais poderá haver subtituições, pois sempre o calor e a luz serão mais fortes diante de mais fontes para produzi-los. Mas o importante de preservá-los é a certeza de que, por mais minguante que seja a luminosidade, você jamais estará na escuridão.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

dias atrás.


Talvez o tempo desbote a graça das piadas que, no presente, já não são tão boas. Envelhecer é um processo inevitável, portanto não há Renew Clinic que vá impedir que ele se conclua. Não nego que é doloroso, e digo isso tanto por experiência quanto por relatos continuamente a mim dirigidos. Ver rugas tomando o lugar das espinhas da puberdade nos faz compreender melhor o que significa ver o tempo passar. Falando assim, parece que eu já passei dos 60. Realmente estou longe disso, mas o fato é que estou envelhecendo só que nessa fase da vida preferimos chamar de amadurecimento. Parece que foi ontem que eu escolhia meu vestido de formatura da oitava série - que, por sinal, foi praticamente idêntico ao da minha amiga. É também tão recente a memória das minhas aflições insolucionáveis, meus medos aterrorizantes, que hoje não passam de bons motivos pra dar risada. Quantas vezes me deparei com situações angustiantes, as quais eu acreditava fielmente que não conseguiria resolver. O tempo corre em passos mais largos do que os nossos pequenos pés podem acompanhar. As vezes queremos abraçar forte as pessoas que tem de partir, para que elas não nos deixem sozinhos nessa correria constante, mas o esforço não é suficiente e elas acabam tendo que cumprir o curso natural da vida - a morte também é parte dele. Em outras queremos um jeito de voltar atrás, consertas os pequenos errinhos e as grandes catástrofes provocadas pelos nossos equívocos. Há momentos em que queremos que ele passe rápido e outros que rasteje seus ponteiros - mas o tempo é independente, e segue o ritmo que achar necessário, seja qual for a nossa vontade. Retrospectivas nos fazem parecer bobos, paradoxais, principalmente quando revelam a trajetória de uma inimizade se tornando uma relação extremamente amistosa. Mas aí está a essência de tudo: mostrar a relatividade da vida e a reviravolta que uma mudança de ponto de vista pode trazer. Revelar que a importância das pessoas é variável, bem como a presença e atuação destas no nosso cotidiano. Evidenciar, ainda, que não há julgamento vitalíceo e nem a possibilidade de engessar a sua opinião sobre o mundo: é tudo dinâmico, ainda que você acredite não ser. Não há parâmetros estancados, que sirvam de base a todo momento. Há ponderações sendo feitas a cada segundo, desvirtuando ou encaminhando pessoas a suas crenças. É um sistema muito mais complexo do que aparenta, regido por leis amenas e drásticas. E eu nem preciso dizer em qual delas a lei do tempo se encaixa, né? Severo ou brando, ele sempre existirá para nos ensinar um pouco da sua imensurável sabedoria. Só que, pra nós, o tempo é finito - não se esqueça de aproveitar o pouco que tem.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

como negar ?

Tem coisas que insistimos em ocultar, mas que transparecem sem o menor esforço. Todos os dias que eu abro meu blog torço secretamente pra ser inundada por uma maré de criatividade, forte o suficiente pra me conduzir a um Best Seller. Como vocês já devem ter notado minhas preces não são suficientes e, no final, eu não consigo conter a vontade de falar de coisas corriqueiras, mas excepcionais ao meu ponto de vista. Funciona assim quase sempre que tentamos mudar algo em nós: a nossa essência é imutável – ou pelo menos faz de tudo pra ser. Podemos acordar ao avesso, ir ao cabeleireiro e mandar ver um totalizante azul turquesa, fazer uma tatuagem inédita de dragão ou tentar quebrar o recorde mundial do número de piercings. Ou simplesmente passar de gótica a hippie, de prostituta a freira, de mendigo a burguês. O estereótipo tem lá sua importância – ou então ele não existiria – mas ela não tem tanta magnitude quando comparada ao que guardamos num interior praticamente inexistente aos demais. Mesmo quando fazemos algo contrariados, temos ciência do que realmente nos traria paz, nos faria feliz e realmente satisfeitos. Sabemos que aquilo não corresponde aos nossos reais anseios, mas ainda assim o fazemos com o intuito de agradar ou se encaixar em algum padrão bobo. Somos assim, meio lesados por deixar de seguir nossos instintos para priorizar os alheios. Só que não há escapatória quando o limiar de estoque de contrariedades é atingido. Eu sei – e vocês também – que essa história é invenção minha, pelo menos os termos bizarros. Mas sei também que é totalmente compreensível o que eu quero dizer: não dá pra viver sempre na contra mão do destino que pretendemos chegar. A libertação é um processo natural, afinal nos metemos nessa enrascada de fidelidade a maioria por um mecanismo meio incompreendido de amadurecimento. Faz parte quebrar a cara e ver que aquilo tudo foi perda de tempo e que é muito mais divertido ser quem você quer ser ao invés de se transformar numa cópia – muitas vezes mal feita – de um grupo de cabeças de vento. Se hoje você acha o máximo assistir os filmes da galera, comer a comida que a galera gosta e fazer as coisas que a galera faz, mas no fundo sabe o seu jeito de fazer todas essas coisas parece bem mais agradável, espere. A hora vai chegar e você vai ver como a originalidade será valorizada, até mesmo como item da tão sonhada popularidade. As pessoas, quando evoluem dessa fase de “somos todos iguais” começam a buscar indivíduos diferentes, que não se importem tanto com essa necessidade doentia de se camuflar sendo igual. Pelo contrário: eles querem mais é se destacar, ainda que isso venha naturalmente pela sua vontade peculiar de usar jeans surrados e cabelos esvoaçados. Realmente não há fórmulas pra ajudar quem se encontra nesse estágio, o que não seria uma má idéia e pouparia muitas almas da decepção. Mas do que é feita a vida, se não de desencontros? O que posso fazer é orientá-los a seguir o instinto e não negar aquilo que você realmente é – ou daqui a pouco nem você saberá mais.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

the one.


Nos meus breves dezoito anos de vida já vi filmes de amor dos mais variados tipos. Desde aqueles onde eles se conhecem no berçário da maternidade até os quais o amor aparece na terceira idade. E cada qual com sua teoria - maluca ou pirada - sobre relacionamentos, pessoas certas e todos esses termos os quais debatemos muito mais que uma vez na vida. Mas eu, cansada de ser telespectadora de tanta genialidade amorosa, resolvi externar a minha ideologia sobre essas coisas. Não é um manual de "encontre sua cara metade" mas são estágios diagnosticados de que você está, no mínimo, no caminho certo. Pode parecer meio estranho - talvez porque seja mesmo! -, mas o importante é soltar a imaginação e seguir o fluxo.
O modelo de pessoa certa, pra grande maioria da população, se enquadra naquela mesmice de "compreensivo, romântico, engraçado, nem tão bonito mas não tão feio, tenha amigos mas não me troque por eles" e por aí vai! Até aí, tudo bem, afinal tenho que dar o braço a torcer e dizer que já fui adepta a buscar por esse lado. Mas, se pararmos pra pensar, faz mais sentido buscar na pessoa que já temos características que a faça A pessoa, e não sair procurando feito louco o mister perfeição. Leiga que sou, visando facilitar o entendimento, resolvi elencar três estações e três lugares pelos quais qualquer aspirante a pessoa certa tem que ter passado e/ou estado. Vamos começar?
Quando digo estações, falo de estações do ano mesmo, tipo primavera, verão... essas daí! Obviamente não me restrinjo ao intervalo de tempo que estas delimitam, mas me apego a metáfora da explicação de cada uma. Pra início de conversa, temos que ter passado pelo verão e saído ilesos de todo o calor avassalador, sem derreter nossas expectativas. Após isso, um inverno rigoroso e a passagem por ele sem deixar congelar os sentimentos. Por fim, a tão florida primaveira, que vem como recompensa de um trabalho bem feito em todas as outras.
Os três lugares se resumem a velório, montanha e praia. Relacionamento que se preze tem que ter marcado presença nesses três aí! Mais uma vez, não estou indicando intinerário - se você já ia marcando seus passeios, pode sossegar aí! O velório traduz aquela situação onde vocês viram pessoas partirem, não somente no sentido literal da palavra partida. Pode ter sido aquele amigo que se disvirtuou, aquele que sumiu, seja por distância ou brigas, ou simplesmente viram pessoas se transformando - pra melhor ou pra pior - e findando algum ciclo da vida. A montanha representa as dificuldades, onde vocês ameaçaram cair, mas estiveram sempre a postos para estender as mãos um ao outro, e juntos alcançaram o topo. A praia relata aqueles momentos no qual correram juntos inúmeros riscos, como se afogar nas mágoas, ou soterrar sob a areia dos desentendimentos, mas souberam administrar as condições e sentir a brisa que essa sintonia proporcionou. É óbvio que existem critérios mais rigorosos e conclusivos do que estes que eu usei para encontrar a pessoa certa pra você. Mas quem detem a capacidade da avaliação é o seu próprio coração - e até ele pode errar nessa hora! Na verdade, não há com o que se preocupar: o sentimento que vai se instalar dentro de você no momento em que encontrar a sua pessoa será mais forte e mais claro do que qualquer blogueira arriscando falar sobre amor.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Cheirinho de saudade



Não sei o embasamento fisiólogico ou psicológico que explica essa associação, mas se você nunca sentiu um cheiro que te remetesse imediatamente alguém ou alguma situação, procure tratamento - você não é desse planeta. O exagero é pra mostrar o quanto isso é, concomitantemente, comum e assustador. Hoje, no auge do ócio, enquanto arrumava minha maletinha de maquiagens, resolvi experimentar um gloss que encontrei por acaso. Ao desenroscar o aplicador do tubo, o aroma do produto mais do que automaticamente acionou uma parte da minha memória que há anos eu não visitava. Era minha sétima série, e eu me arrumava pouco antes de 12h30min pra ir pra escola. Almoçava com a minha família, enquanto o "top 10" da rádio local tocava, tendo como segundo lugar uma música da Vanessa Camargo. Ao terminar, me levantava da mesa, escovava os dentes e adivinha? Passava aquele gloss. Não é só o fato de utilizá-lo na época, mas o modo como ele é um gancho pra que eu nunca esqueça daquele período da minha vida. Podia ter sido o sabor da comida, a música da rádio - que eu realmente não me lembro qual era -, o ônibus que eu pegava ou o caminho que eu trilhava a pé. Mas não foi nada se não o gloss cor de rosa e cheiroso que eu aplicava todos os dias. Engraçado, né? Talvez mais engraçado ainda seja o fato de eu ter guardado por tantos anos - e ainda me arriscado a usá-lo, afinal já deve ter vencido há décadas. E é óbvio que isso foi apenas um dos vários exemplos que poderiam ser citados do quanto essa capacidade do nosso cérebro é magnífica! Das situações mais óbvias, de sentir o perfume de uma pessoa e daí pra frente sempre ligar o cheiro a pessoa, até as mais aparentemente impossíveis, onde sentimos o cheiro de flores e lembramos da vizinha que conhecemos nas férias de verão no sítio da avó que plantava margarida. Tá, pode ser menos complexo que isso, mas não muda a essência da singularidade do processo. Espero que já tenha acontecido algo semelhante com vocês pra salvar o post de ser uma viagem absurda e o primeiro pensamento ser algo do tipo "Hã? Que que essa louca tá falando?". Mas, ainda que seja assim, caso não tenham tido o prazer de passar por uma experiência desse tipo, acreditem em mim: é sublime.

Homicídio da tentativa.



Travar batalhas diárias contra monstros invisíveis não é exclusividade minha, nem sua, nem de ninguém. Afinal, a realidade desse utópico individualismo que pregamos sempre desemboca nas semelhanças, inclusive com aqueles pelos quais não temos o mínimo apreço. É chato observar seus defeitos em outros, não por tê-los, mas talvez por compartilhá-los. Somos um tanto quanto egoístas, até nas coisas menos apreciáveis. É claro que temos uma gama de coisas em comum com todo mundo e isso torna impossível restringi-las aos defeitos. Gosto de falar deles pois acho engraçado o quanto vergonhoso é criticar alguém por ter um comportamento como o seu; em outras palavras, ver o sujo falando do mal lavado. Mas, apesar do desenvolvimento, não é sobre isso que quero falar. Retomando a primeira linha, consequentemente a primeira expressão, os tais 'monstros' podem até não serem visto, mas deixam aqui e alí suas marcas. Concordo que damos uma dimensão exagerada à uma coisa ou outra, mas também pecamos ao subestimar as consequências de uma bobeirinha. Mas se há uma coisa nas quais gostamos de nos apoiar são as queixas. Talvez seja da natureza humana ser assim, tão queixoso. Antes de efetuar uma ação, pensamos tanto nos prós e nos contras que acabamos exilando a possibilidade de executá-la por receio do que pode aparecer no caminho. E, quando vencemos essa fase e finalmente concretizamos algo, não pode haver um desvio da rota original que já corremos em buscas de desculpas, porquês e culpados - posto que raramente utilizamos auto-nomeação. Não nos contentamos em apenas seguir o fluxo, ou deletar o que não funcionou e reiniciar a operação. Não falo de ser sempre assim, pois isso caminha seguramente para a negligência, falta de atitude e crítica. Se nossas reclamações fossem construtivas, eu até as incentivaria. O grande problema é que quase sempre são palavras tão vagas, que surgem no calor do momento muitas vezes mais pra desviar o foco do problema do que pra solucioná-lo. Para evitar todo esse desenrolo, muitas pessoas apostam em sequer tentar. O que fazer então? Se eu soubesse, com certeza não estaria aqui desabafando trechos desconexos de interpretação do meu conflituoso ser. Mas gosto de expor essas opiniões, ainda que meio absurdas, pra que elas possam acender uma luz - nem que seja em mim mesma. Saber dosar as coisas e agir com coerência parece ser como uma arte milenar, um mito que aparentemente só os monges isolados conseguem executar com perfeição. Eis aí um engano: enquanto seres humanos, nem eles poderiam.