terça-feira, 6 de junho de 2017

Sobre volantes e beijos



Ansiedade, adrenalina, medo de errar, vontade de acertar. O início de um relacionamento envolve sensações muito semelhantes às existentes nas nossas primeiras experiências ao volante... e será que essas coincidências se mantém?

Oficialmente, aguardamos os 18 anos pra dar início às aventuras como motoristas. Alguns “avançam o sinal” e o fazem um pouco antes; independente do que diga o calendário, a sensação de frio na barriga ao ouvir o ronco do motor sob nossa direção é a mesma. O início do relacionamento também não tem data certa: as vezes aguardamos estar mais preparados, outras nos arriscamos do jeito que dá. Enquanto sem experiências, temos receio em cada km percorrido. E o medo eterno de deixar o carro apagar e não saber o que fazer naquela rampa? Quando acabamos de ingressar numa jornada ao lado de alguém, também está presente algo muito parecido: a fase da conquista nos deixa dúvidas cruéis. Será que se eu ligar demais ele vai enjoar? Mas, se eu ligar de menos e ela esquecer?
Pessoas mais experientes dão risada da nossa insegurança e dizem que depois de alguns anos tudo flui naturalmente – a direção e a vida a dois. Ocorre que, de fato, com alguma prática já nos tornamos mais confiantes. Já esquecemos o cinto, ou as alianças em casa. Já fazemos manobras perigosas, ou nos arriscamos quebrando uma ou outra promessa. Furamos o sinal vermelho porque sabemos que ali não tem radar – mas esquecemos que fazer algo que contrarie o combinado entre os parceiros, ainda que ele não esteja vendo, pode trazer consequências fatais. O tempo vai passando e a confiança na nossa habilidade vai nos trazendo, de um lado, tranquilidade, mas, por outro, nos expõe a riscos cada vez maiores. Por vezes nos tornamos imprudentes, seguros demais sobre como manobrar o carro e o nosso relacionamento. Porém, algumas vezes, acabamos batendo. Algumas batidas geram apenas arranhões, pequenos amassados...coisas aparentemente imperceptíveis, mas que já impactam no valor que aquilo tem. Outras batidas, por sua vez, parecem bobas, simples de resolver; só que, por mais que pensemos que não, elas podem dar perda total. Tornar-se um bom motorista, assim como um bom companheiro, requer de nós vigilância constante. É preciso não se deixar levar pelo conforto, não se acomodar. Não que seja necessário viver em paranoia, temendo acidentes a todo o tempo. Mas também é importante que não relaxemos demais, a ponto de não estar atento para evitar catástrofes. Encontrando o equilíbrio entre a confiança e o cuidado (que é diferente para cada um) há grandes chances de que a jornada de um motorista seja longa – e a companhia no relacionamento seja agradável o suficiente para fazer uma vida parecer um piscar de olhos.

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