segunda-feira, 17 de outubro de 2016

De repente, mãe!

Um dos meus grandes prazeres nessa vida é escrever e, de repente, percebi que ainda não narrei em linhas intermináveis (como gosto tanto de fazer) o evento mais importante da minha existência: tornar-me mãe. Meu conselho? Prepare-se, porque a seguir virão uma sequência incansável de palavras - e (pasmem) elas não vão conseguir transmitir metade do que isso representou em sentimento. Vamos lá?

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Dezembro de dois mil e quinze, após três meses de interrupção do anticoncepcional, quinze dias de atraso, um ano e meio de casamento, um "será?" gritando na mente de uma forma tão insistente que podia ser ouvido a quilômetros dali. De posse do teste de farmácia, veio a leiga e foi-se a farmacêutica: os tais dois tracinhos eram tão difíceis de interpretar que comecei a questionar se estavam no idioma certo. As mãos trêmulas pediram reforço e outros olhos também duvidaram sobre o significado daquelas diminutas linhas paralelas. Para não restar dúvida, fomos ao laboratório mais próximo (e mais barato) tirar a prova (e o sangue). O resultado era indubitável, mas meus olhos e minha mente estavam especialistas em me distanciar da conclusão. Depois de algum tempo, a certeza chegou: os dois tracinhos e a dosagem daquele hormônio na casa dos vinte e três mil realmente noticiavam a batida de outro coração dentro de mim. E o que mais poderia fazer um ser carregando consigo quatro átrios e quatro ventrículos se não amar ainda mais? Foi o que eu fiz. Fomos dar a notícia a todos que nos amam e eles, entre lágrimas, gritos e sorrisos, passaram a nos amar ainda mais, afinal em breve daríamos a eles um belo motivo a mais para viver.
Se eu disser que a ficha caiu instantaneamente, seria uma inverdade; passei algum tempo tentando entender o que era a manchinha no ultrassom, ao mesmo tempo que me adaptava aos leves (porém totalmente dispensáveis) enjoos. Começaram, então, as apostas entre o rosa e o azul. Incontestavelmente, o rosa ganhou para todos. Mas para mim, muito sinceramente, o xadrez rosa/azul reinou até o dia da descoberta. Por pressão da vovó da criança, fiz o teste de sexagem fetal (caríssimo e totalmente prescindível). Perdi as contas de quantas vezes atualizei o aplicativo do Sabin para saber se o resultado estava pronto, mesmo sabendo que demoraria dois dias ou três. Ao final do segundo dia, num F5 despretensioso na página, eis que o resultado estava disponível. E, sem mágica e de uma forma desajeitada, acabei clicando e abrindo o exame. O clamor de todos por uma boneca de verdade foi atendido: era uma menina. O fato de não ter preferência pelo sexo torna completamente previsível minha feliz reação e brincar de boneca nunca é demais. A partir daquele momento, eu passava de "mãe do bebê" para "mãe da Lara Oliveira Pradela". Sobre o nome, já havíamos escolhido há algum tempo (o dela e dos outros 3), sempre focando em nomes curtos, de fácil pronuncia e escrita, sem letras desnecessárias e que ficasse mais ou menos no meio da chamada pra ela eventualmente ter tempo de fazer o dever de casa que não fez (que ela pule essa parte quando for ler).
A barriga demorou um pouco pra crescer aos meus olhos e bastante aos olhos dos outros, que tinham uma incompreensível dificuldade de enxergar aquele volume (hoje, vendo as fotos, talvez não fosse tão incompreensível assim). A vida passa a ser contada em semanas e a conversão em meses passa torna-se o assunto mais polêmico da mesa.
Um belo dia, com a barriga já aparente (e dessa vez não só pra mim), sinto que a expressão "borboletas no estômago" toma vida: algo está saltitando dentro de mim! Os primeiros chutes são uma mistura difícil de explicar...é engraçado, emocionante, esquisito, maravilhoso e todos os vários elogios que antes jamais caberiam na mesma frase.
A escolha do tipo de parto é algo que me assombrou até o último segundo. Talvez porque não escolhi um obstetra desde o começo (mudei com vinte e poucas semanas), ou simplesmente porque considerei um verdadeiro problema ter que escolher entre as dores do parto normal e a cirurgia do parto cesariano. Não faltaram artigos, depoimentos, relatos, vídeos e histórias para eu consultar nessa indecisão. Decidi pelo parto normal, achando que isso bastava para que ele acontecesse. O novo obstetra apoiava essa decisão, e o parecer dele era um suporte extremamente válido para quem ainda estava meio insegura com a opção, afinal eu e meu marido nascemos beirando os 4kg e para nossa filha era essa a estimativa de muita gente. E eu, mesmo sabendo que a alimentação e estilo de vida da gestante influenciam muito no peso do bebê, acabava caindo na pilha.
Cada dia desde que eu descobri a gravidez foi diferente de tudo que eu já vivi. Não fui uma grávida típica, daquelas que morrem de enjoo, tem desejo de comer tinta de parede, perde todas as roupas, mal consegue andar, ora por conta do inchaço, ora por conta do sono incontrolável. Eu vivi dias de princesa: me sentia linda, mesmo sabendo que estava barriguda e sem cintura. Tive uma disposição enorme pra ir malhar (até o último mês, inclusive), fiz cursinho, prova de concurso, iniciei uma pós-graduação...enfim, energia não faltou nem um segundo.
O ensaio gestante ficou mais bonito que todos aqueles que me serviram de inspiração. Modestia à parte, me apaixonei por cada foto e até hoje meus olhos brilham quando vejo uma delas. O chá de fraldas foi um sonho! Deu MUITO trabalho e no dia parecia que tudo ia dar errado, mas no fim das contas foi tudo muito melhor do que eu planejei, graças a todos das nossas família que tanto nos ajudaram. Depois disso, só estava faltando um detalhe: a chegada da Lara.
A data prevista para o parto era nove de agosto. Como eu não gostava de agosto, entrei em contagem regressiva nos dez últimos dias de julho. Sem nenhum sinal de que a hora estava chegando, julho se foi e levou com ele minha esperança do parto não ser em agosto. O tal mês oito chegou e os palpites de data foram caindo por terra: ninguém acertou a data da chegada dessa princesa. Última consulta com o obstetra foi lá pelo dia dois e nesse momento o médico me alertou: pelo tamanho da criança, dificilmente eu conseguiria o parto normal. Um milhão de artigos científicos mostram que não há relação entre tamanho do bebê e êxito no parto normal, mas quando o seu obstetra, aquele que deu super apoio ao parto normal desde o começo, diz que não vai rolar, você acaba acreditando. Marcamos a cesárea para o dia treze e eu fui pra casa meio desiludida e meio angustiada por marcar a cesárea; mesmo "sabendo" que não ia conseguir, queria que ela nascesse apenas quando estivesse pronta.
Dia cinco de agosto desse ano caiu numa sexta-feira e eu, especificamente, voltava da pós-graduação lá pelas onze da noite com o rádio ligado e cantando vergonhosamente quando senti uma dorzinha diferente. Mais tarde eu descobriria que aquilo era o primeiro projeto de contração e que o trabalho de parto estava querendo ter início. No dia seguinte, sábado, tive aula o dia todo e a tal dorzinha diferente me acompanhou em cada disciplina. Em casa, preparávamos o quartinho dela e eu me dividia entre segurar o pote de cola pro papel de parede e dar uma longa pausa pra respirar bem fundo e torcer pra dor passar. Assisti cada minuto da madrugada de sábado pra domingo enquanto me contorcia com as dores. Como mãe de primeira viagem, tinha certeza que no próximo espirro a Lara ia sair. Comovido com minhas primeiras olheiras de uma noite sem dormir, meu marido me convenceu a ir à maternidade: colo fechado, zero cm de dilatação. O primeiro pensamento? "Meu Deus, se com essa dor o colo ainda está fechado, até chegar aos dez centímetros eu com certeza vou ter morrido." Voltei pra casa num mix de "vai passar"/"vai ter que ser cesárea". Mas o sentimento que reinava nesse momento era, sem dúvida, a dor miserável das contrações, que vinham numa intensidade louca e iam embora numa velocidade ainda mais insana. No início da segunda-feira, dia oito, acabei voltando à maternidade, porque não tava conseguindo conciliar a dor com a respiração - e respirar é bem importante. Os zero tinham se transformado em dois centímetros, que se transformaram em três pela caneta da doutora ao escrever  no prontuário só pra que me internassem logo. De uma da manhã às seis os centímetros se transformaram em sete e eu cheguei à beira do desespero umas setecentas vezes naquela madrugada. Foi quando o médico entrou com um resultado de exame dizendo algo parecido com "é, você tentou... mas para não colocá-la em risco, vou preparar uma sala pra cesárea". Lara tinha uma laçada de cordão no pescoço, mas isso não era impeditivo para o parto normal. Mas, até o momento ela não tinha encaixado, a bolsa não tinha estourado e os batimentos dela estavam desacelerando de forma preocupante a cada contração. Mesmo havendo a possibilidade dela nascer de parto normal sem problemas, a dor não me permitiu questionar muito o que estava ouvindo, apenas concordei e me preparei pra cirurgia. Não tive a sensação de nadar e morrer na praia, mas sim a felicidade de saber que aquele era o momento dela, ainda que fosse diferente do que eu tinha "planejado". Entrei na sala, levei a anestesia e ver a dor passando foi inacreditável. Mas, mais inacreditável ainda foi o momento em que um bebê roxinho, de três quilos e pouquinho, todo inchadinho e limpinho (tipo aqueles bebês de filme que a gente fala "que mentira, nem tem sangue"...pois é, não tem sangue mesmo!) veio até mim para que eu o sentisse pela primeira vez. Era minha filha, minha continuidade, meu prazer de viver daquele momento em diante... tudo que eu planejei por tanto tempo de repente tomou forma. Ela não chorou na hora, o que me deixou preocupada, mas rapidamente eu pude ouvir um ou outro gritinho dela. Não chorei de emoção, talvez pelo desgaste físico que tive nos dias que antecederam a sua chegada, mas meu coração quase saiu pela boca. É indescritível o sentimento... é o mundo em nossas mãos, o futuro na nossa frente, uma vida que EU fiz, gerei e agora posso tocar. É uma vontade de não sair de perto por nem um segundo sequer. É amor a primeira vista, mas que cresce de forma exponencial a cada dia.

Assim chegou a minha Lara, completando nossas vidas e transformando-as completamente. Os primeiros dias foram difíceis - e nunca havia lido nada que descrevesse o que me aguardava. Mas isso vai ser assunto pra um próximo post :)

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns filha, vc se tornou uma ótima e amorosa mãe.
Tenho muito orgulho de ser avó desse ser que veio ao mundo
para nos deixar felizes, amados....

Unknown disse...

Que lindo!!!! ( Deixei mesmo as lágrimas rolarem... )

Unknown disse...

Que lindo!!!! ( Deixei mesmo as lágrimas rolarem... )