quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
Como um quebra-cabeça
Como não se recordar com apreço das horas perdidas na vida procurando, quase que incansavelmente, montar um quebra-cabeça? Desde aqueles relativamente óbvios aos que continham imagens de obras de arte: encaixar aquelas inúmeras pecinhas era quase que uma aventura.
Muitos calendários depois, resolvi pensar como tantas coisas na vida estão traduzidas na jornada de montar um quebra-cabeça. Não garanto que todos concordem com (ou sequer entendam com clareza) as metáforas - ora simplórias demais, ora exageradas demais - que pretendo redigir aqui. Mas, vamos lá...
À primeira vista, por que montar um quebra-cabeça? Motivos variados, eu sei. Uns pelo desafio, outros porque sentem a necessidade de se dedicar a algo até o fim... Cada qual com seus motivos, ingressamos na aventura. Há quem veja "de fora" e se pergunte: "Mas por que diabos ele(a) inventou de fazer isso? Não faz sentido". Pra eles. Não faz sentido pra eles, que não sabem o que te motivou.
Você abre a caixa e lá vem o desespero: aquelas peças (que, para os mais corajosos, podem passar - e muito - de mil) todas soltas, embaralhadas, sem nexo e esperando você para dar rumo à cada uma. Mas, aos poucos, com toda paciência e cuidado, começamos a encaixá-las. Tem sempre aquelas peças óbvias, de um canto, da base, da parte colorida do desenho, que você nota tão facilmente qual sua posição que começa a pensar que tudo aquilo vai ser mais do que fácil: vai ser perfeito. Tomados pela empolgação, vamos em busca dessas partes triviais, alegres e confiantes por estarmos lidando tão bem com essa missão aparentemente bem mais complexa do que tem sido. Pois é...
De repente, as peças perfeitas vão diminuindo, diminuindo... e quando conseguimos perceber, já não há mais nada fácil ali: começamos a ver que o encaixe vai precisar de mais empenho para acontecer. Mas, nada que motive o desânimo, afinal você se propôs a concluir essa montagem para enxergar a bela figura que aparecerá ao término.
Continuamos a procurar as peças e seus respectivos lugares, agoras dotados de um pouco mais de lógica e raciocínio, pensando nas possibilidades e lutando pra que dê tudo certo. Podemos confessar, agora, que a paciência já não está em seu mais alto patamar, e há também tantas outras coisas a fazer que parecem estar mais divertidas do que perder horas em algo tão difícil de entender... Que nada! Conseguimos superar esses pensamentos, e continuamos a montar, agora mais devagar do que de costume, a nossa almejada figura.
Já nos estágios mais avançados, observamos que as lacunas diminuiram, restando poucas peças para ocupá-las. E as vezes, mesmo com a peça certa nas mãos, não conseguimos fazê-la encaixar. Ou ainda tentamos, mesmo que à força, empurrar peças em lugares que não lhes pertencem. O pior é que as vezes a peça na lacuna errada passa despercebida por muito tempo... Mas, quando você finalmente tiver em mãos a peça correta, vai perceber que ela não tinha absolutamente nada a ver com aquele lugarzinho. E quanto à primeira situação, com o tempo você vai entender que o seu ponto de vista é quem não permitia o encaixe: a peça sempre esteve pronta pra estar ali.
O problema maior é quando você percebe que o pior aconteceu: a peça perfeita para determinado lugar foi perdida ao longo do percurso. Você perdeu por desatenção, ou por encaixar outra peça (erradíssima) em seu lugar... Seja como for, toda a caminhada fica interrompida nesse momento. Mesmo que você termine a montagem, sempre olhará para ela sabendo que falta alguma coisa, falta aquela peça que permitiria a totalidade. Porém, como sempre há esperança, você encontra a peça, seja lá onde você tenha deixado: é hora do encaixe final.
Não há nada te impedindo, é apenas você, a peça em suas mãos e a última lacuna a ser preenchida. E se o telefone toca? E se você se lembra que é o último episódio da novela? Já pensou se você adia esse momento em virtude de qualquer outro compromisso, e a janela aberta da sala permite a entrada de uma ventania que, sorrateiramente, destrói tudo que você construiu e inclusive desaparece com peças essenciais à sua conclusão? Pois é... Então, nessa situação, temos que encaixar logo a tão sonhada última peça e observar o que tanto desejamos durante todo esse tempo: a bela figura, a junção das pecinhas, a sua totalidade.
Talvez pra quem veja - mais uma vez "de fora"- não seja lá essa maravilha toda. Já para você, que montou cuidadosamente cada parte, que perdeu a paciência e quis desistir inúmeras vezes, mas teve força de vontade para ir até o final, que desesperou-se com a ideia de perder alguma pecinha tão preciosa, que refletiu mil vezes sobre as possibilidades... pra você, aquilo é incrível! Aquilo significa que você conseguiu se dedicar a algo e que realmente valeu a pena. Significa que você valorizou cada peça e agora pode desfrutar do prazer de ver seu trabalho concluído. Agora, ninguém pode destruir o que você fez. Mesmo que alguém embaralhe todas as peças, você sabe que sempre será possível remontá-las.
Você já agradeceu hoje pelo seu quebra-cabeça?
:)
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