Precisamos mesmo de tanta rigidez diante do inofensivo cotidiano? Ou se nossas atitudes fossem ligeiramente mais moldáveis poderiam desvencilhar de modo saudável a maioria das nossas desavenças? Em conversas passadas, aqui mesmo nesse espaço, falei sobre resistência e resiliência, e do quanto elas tem a ver com nossas conquistas, caídas e reerguidas. Vistas de outros ângulos nossas dificuldades são, além de enfraquecedoras, desafiadoras. Porém não é baseado nesse caráter adverso das situações ruins que podemos lançar mão de qualquer artifício para superá-las. Como em tudo na vida, há limites até pra nossas batalhas. Não há como quebrar tudo e transformar em pó toda construção que vier em nosso caminho. Todos os impecilhos são oriundos de uma história alheia, carregada com seus próprios problemas e seus próprios motivos de ali estar. O limite da nossa liberdade é onde começam os direitos do outro. E na prática e tão difícil quanto na definição: como transitar intacto diante dessa malha sentimental que permeia os nossos trâmites diários? Intacto, hoje, reside num mundo utópico, onde somos todos respeitadores das diferenças e doadores de perdão. No mundo real, a menor das feridas gera uma cicatriz que dificilmente se perde no tempo, acompanhando-nos por toda a existência sem deixar que aquelas memórias se desfaçam. O aprendizado de todo esse discurso interminável é justificar suas feridas, mas não com um tom de vingança, mas sim num tom de lição, para que não repita no próximo o erro que cometeram com você. Entender o que se passa na cabeça e na vida do próximo é uma tarefa árdua, principalmente por não possuir uma finalidade muito compreensível: o que se ganha com isso? Se ganha a possibilidade de despertar na mente alheia a vontade de propagar o bem e instaurar uma convivência muito mais saudável do que a áurea competitiva que reside entre nós. Não precisamos exalar amor e carinho, a ponto de ser possível materializar coraçõezinhos brilhantes ao nosso redor. A questão é ser mais maleável e não tão rígido diante dos acontecimentos, lembrando que a composição de todos nós é a mesma. Somos todos um só molde, acrescidos de uns ou outros centímetros e quilos, mas principalmente recheados com uma essência que é particular de cada um: o nosso caráter. Essa nossa ‘’marca registrada’’ pode ser corrompida quando não preservada e, com isso, degradar pouco a pouco nossa capacidade de responder verdadeiramente as mais variadas questões. Não é recomendável o plágio ao caráter alheio, pois cada um de nós responde de uma forma específica a uma dada situação. O melhor é moldar a sua própria essência e encontrar aquela que melhor se adapte a sua vida – sem prejudicar a de quem lhe rodeia.
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