quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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A quem seguir e em quem confiar?

Sempre que precisamos de orientação recorremos ao dilema de ouvir o coração ou a razão. Traçar um caminho é meramente ilustrativo, porque sabemos que na prática há confluências diversas que mudam ora o trajeto, ora o destino. Seguir o coração, suas emoções, significa não só se abster de raciocínios lógicos, mas também cometer ações muito provavelmente incoerentes pra maioria, mas totalmente sensatas pra você e seu interior. Entretanto, essa peculiaridade não confere a esse tipo de escolha uma garantia de acertos, podendo também ser uma excelente condutora ao caos. A razão, por sua vez, muitas vezes sufoca os impulsos da emoção com pensamentos concretos e cálculos imaginários de probabilidades. Nesse caso, a chance de errar decai inversamente proporcional a chance de estagnação: pensar é quase sempre uma barreira pra nossas ações. Diante de um problema, encontrar a solução exata que não traga efeitos colaterais, é bastante improvável. Talvez seja por isso que tenhamos o mal hábito de adiar nossas decisões, quem sabe esperando uma intervenção alheia pra nos polpar do trabalho de impor nossas vontades e necessidades. Se temos uma pedra no sapato, topamos caminhar mais algumas milhas, afinal "pior do que está, não fica". Mas é aí que nos enganamos: fica sim! Feridas antigas cicatrizam depois de um tempo, mas só se bem cuidadas. Nossos problemas se acalmam, a poeira baixa... mas só se houver, no mínimo, uma tentativa de resolução. Temos que ter também consciência que nossas atitudes são exclusivamente individuais, ainda que tenham reflexos com perspectivas coletivas. Estamos sozinhos nos acertos e principalmente nos erros, sujeitos a julgamentos justos e injustos e penalidades condizentes ou não. Nessa esfera tão repletas de casos coincidentes, precisamos caminhar e atuar com a máxima cautela, pra não esbarrar nem ferir sentimentos alheios, que merecem uma atenção triplicada em relação aquela que damos a nós mesmos. A vida é composta por uma complexa malha, tecida de casos, conflitos, dores, sorrisos... experiências! A permeabilidade é seletiva, entretanto deixa passar momentos perfeitamente desprezíveis. Todavia, eles não são inseridos a esmo, mas sim com o intuito de aperfeiçoar nossa administração pessoal e nos ensinar a importância de valorizar cada situação, por menor e menos construtiva que ela possa parecer numa primeira vista. É tudo tão confuso e facilmente enlouquecedor, que só me resta partir e exercitar o verbo mais difícil de se aplicar: viver.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Believe


As vezes me pergunto se pra ser bom em alguma coisa, temos que obrigatoriamente nos inspirar naqueles que pelo menos tentaram feitos similares. Do meu ponto de vista, enxergo que os bons, na maioria das situações, são os inovadores, os pioneiros. E eles, então, se tornam exemplo para os milhares que sucederão suas conquistas, inspirando-se e copiando seus métodos. No meu gosto por ensinar sei o quanto é prazeroso admirar o sucesso daqueles que tomaram conosco algumas lições sobre como alcança-lo. Mas mais saboroso ainda é o gosto da vitória por mérito próprio, onde você caminhou (e tropeçou) com as próprias pernas e dificuldades pra chegar ao ponto almejado. Adoro escrever e, como eu, milhares de pessoas antecederam minha existência com essa mesma paixão. Dessas tantas, pouquíssimas se tornaram gênios capazes de inspirar gerações e terem citações nas mais diversas publicações. Não sei se é um desejo coletivo, mas eu me pego constantemente na esperança de me tornar não uma cópia, mas um referencial. Não é ambição demais - pelo menos, eu acho que não. Acreditar em si mesmo é ferramente essencial para convencer os outros a fazê-lo também. Mas meu desejo vem acompanhado de algumas verdades que colhi ao longo da vida que, de uma forma ou de outra, remetem ao fato da minha pouca afinidade com a leitura. Sempre me destaquei em concursos de redação da primeira série, ou até mesmo em concursos sérios como o tenebroso vestibular. Mas minha estante não está saturada de autores variados - e os poucos que nela se encontram não ganharam minha confiança para ocuparem minhas mãos. O mais recente que li foi incrível, se chama "Feios" e retrata uma possível realidade futura, mesclada a idéias mirabolantes e imaginação exacerbadamente fértil. O livro me chamou a atenção, mas há um tempo abandonei a leitura nas páginas finais e não encontrei forças pra concluir. Enquanto leio um livro não consigo deixar de bolar um final alternativo, oriundo do meu incessável imaginário que não se contenta com aquelas combinações de palavras, muito menos com aquele caminho que o pensamento começou a tomar. Ser muito crítica talvez não seja a qualidade mais admirável, mas ela é sincera e inevitável. Quero um dia ser alvo de críticos, ocupar estantes - abarrotadas e abandonadas. Quero conhecer discípulos e também aqueles que mudarão os meus finais. Eu quero tanto, tanto... que a cada dia que passa me sinto mais perto de conseguir.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Querido diário,



Hora de acordar, mais uma vez. Não gosto mesmo e não há quem me convença das boas intenções desse incômodo despertador. Mas, tudo bem - depois de tantas invenções benignas e úteis, teria uma que seria antagônica a tanta comodidade. Os segundos dissolvem minha revolta momentânea - que retorna minutos depois, quando descubro que estou atrasada. O céu nublado em nada ajuda o processo de acelerar meus passos, rumo ao metrô. É, esse metrô que eu acabo de perder e mesmo assim já posso sentir o aperto do próximo que virá. Enfim chego ao meu destino: a faculdade. Aquele conglomerado de mentes pensantes, mas que nem de longe destinam seus pensamentos as matérias tenebrosas que são alí ministradas. Somos aqui adolescentes disfarçados de gente grande, que uma vez ou outra caem do salto, deixam seus bigodes mal colados e de algum modo deixam transparecer a sua vontade gritante de apenas voltar pra casa e brincar de boneca. Passamos algo em torno de oito horas como telespectadores contínuos de aulas extensas e confusas, que só se lucidarão quando perdermos nossos fins de semana baixando slides de emails pouquíssimamente atualizados. Essa vida universitária não engloba o luxo e o prazer disseminados pelos filmes americanos de festas e promiscuidade. Talvez alguns desfrutem a promiscuidade, mas de forma bem menos explícita. Odiamos alguns. Tá bom, odiamos a maioria dos que passam alí, com sorrisos perdidos ora de descoberta, ora de proximidade da partida daquele antro de despreparados em busca do tão comentado futuro. A minha hora de voltar pra casa chega, muitas vezes acompanhada dos poucos amigos que consegui fazer, mas algumas também acompanhada pelas minhas lamentações. As minhas ocupações daí em diante não são muito interessantes, e se repetem incessantemente todos os dias - excetos feriados e dias santos, os quais eu me dedico a decifrar as mencionadas aulas. Olhando assim, não parece nada atraente viver a minha vida. E talvez realmente não seja. Espero que agora as pessoas tenham exterminado toda e qualquer possibilidade de invejar a minha pobre existência! Amém.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

sempresempresempreNUNCAsempresempresempre

Enxi meus ovidos por todos esses anos com afirmações sólidas e convictas de boas maneiras, difundidas como regras inquestionáveis de existência. Cresci observando a paradoxal realidade, insistentemente se contrastando com tudo que me tinham obrigado a aceitar. Hoje, não abro mão de viver na adrenalina da descoberta de minhas inocentes mentiras, que colorem a minha vida tom de sépia marginalizada por almas domesticadas de hipócritas reprimidos. Minhas não verdades quase sempre não machucam ninguém, não por piedade ou compaixão, mas por que isso de modo algum me traz prazer. Já não me lembro da última pessoa que matei, nem do último vício que abandonei. Talvez por não ter nunca tirado de fato a vida de alguém, nem ter me rendido a qualquer substância - ou não ter abandonado nenhuma delas. A vida é muito mais emocionante do que nossas narrativas cansadas demais ou falsamente embelezadas. Quando dizem que a naturalidade é muito mais bela, querem dizer que ela é muito mais atraente do que aquele modificada por tantos mecanismos de correção. Mas corrigir exatamente o que? Qual o parâmetro determinante do erro? Realmente criamos situações ideais e utópicas, que nada mais são que modelos ilustrativos de uma vida entediante e estável que odiariamos colocar em prática. Os mesmos ideários que determinam o caminho certo nos instigam a procurar pelo errado e por vezes caminhar sobre ele até onde acabar - ele, ou nós. Encerro minha fala por aqui, afinal seria um pecado questionar esse método robotizado de conduta, adotado por tantos e prevalente por tanto tempo. E vocês sabem bem o quanto simpatizo com esses tais pecados.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Convictos na incerteza



Até onde garantimos fidelidade a nossas crenças? Ou melhor: até onde devemos garanti-la?


Por muitas vezes nos posicionamos de uma determinada maneira diante de uma situação, defendendo nossos ideais com base na nossa vivência até alí. Entretanto, não são raras as vezes em que novos acontecimentos deslocam a nossa relativa certeza pra um outro eixo, que pode ser até antagônico ao inicial. Essa mudança é natural, mas quando acontece de forma exacerbada concluímos - ou determinamos - uma falta de personalidade por parte da pessoa inconstante. É fato que defender uma causa nos leva a oscilar em alguns trechos do percurso, mas é importante sempre ter argumentos sucifientes pra firmar nossos propósitos. Isso nem de longe é sinônimo de adotar uma conduta inflexível, impossibilitando até a análise de possíveis propostas de mudança. O ser humano é por natureza sucetível e carente de alterações no seu meio e comportamento - a isso comumente chamamos de evolução. Evoluir, pra mim, é o mesmo que se permitir enxergar a realidade multifocal que nos rodeia, para só depois escolher qual será digna de sua seletiva devoção. Sei que é vergonhoso admitir uma alteração de corrente de pensamento, afinal dói contrariar tudo aquilo pelo qual você tanto lutou. Porém, mais vale a vergonha por estar transitando entre as possibilidades, do que aquela oriunda em assinar um atestado de alienação e se prender incontestavelmente a filosofias que não mais correspondem a sua própria. Devemos ter medo de nos tornar robôs, programados pra tanta coisa que mal sobra tempo para executar a ação mais necessária: pensar. Por isso, não tenha medo de voltar atrás se esse regresso culminará no progresso - ou pelo menos ajudará a encontrá-lo. O tal do "errar é humano" não é só mais um clichê pra ser usado sempre que não acertar - é uma interpretação sóbria da realidade imperfeita, mas recheada de possibilidades de ser cada vez melhor.