
Assim como o silêncio pode representar um desarranjo interno descomunal, a euforia pode traduzir a necessidade de equipar-se com sílabas mudas. Alguns sentimentos mal administrados se tornam estacas, fincadas num ponto de apoio imaginário que iniciam um movimento de translação, obstruidor de qualquer tentativa de progresso. Alimentar-se dessas angústias degenera as esperanças e prende cada vez mais suas expectativas num campo restrito, que bloqueia sua visão do gigantesco mar de novas aventuras que se encontra logo alí. Viver encrustrado em devaneios descrentes e decrescentes faz despertar cobiças, ilustrações a cerca da vida alheia, tornando essa sempre mais atrante e mais agradável do que a que tens. Não faz sentido apoiar-se na desistência, e aceitar ser apenas admirador de outrém, de suas conquistas, lamentar suas derrotas, e não despertar em si uma vontade de também aderir a luta. Os outros também tem problemas, e muitas vezes também olham a sua vida como um modelo perfeito a ser seguido. Estar satisfeito com suas criações é algo que foge ao voluntário, e passa a ser obtido após análises otimistas e determinadas, que visam valorizar seus feitos e instigá-lo a poder enumerá-los ainda mais. Olhar o lado bom da vida não é a única questão a ser trabalhada, ainda que tenha extrema importância na estruturação de uma visão de mundo mais consistente; entretanto, a busca principal deve se focar em enxergar o lado ruim sem priorizá-lo e saber, irrevogavelmente, que ele sempre exisitirá. Mas que nunca será forte o suficiente para arrebatar seus ganhos nem fraco demais para que você se iluda com uma vida utopicamente perfeita. Talvez existam abordagens mais eficazes correspondentes a cada intenção e disposição, no entanto em todos os casos dar o primeiro passo é sempre o mais árduo trabalho: ele é o mais sujeito aos tombos, mas é o único que pode conduzi-lo aos saltos.



