quarta-feira, 25 de novembro de 2009


Assim como o silêncio pode representar um desarranjo interno descomunal, a euforia pode traduzir a necessidade de equipar-se com sílabas mudas. Alguns sentimentos mal administrados se tornam estacas, fincadas num ponto de apoio imaginário que iniciam um movimento de translação, obstruidor de qualquer tentativa de progresso. Alimentar-se dessas angústias degenera as esperanças e prende cada vez mais suas expectativas num campo restrito, que bloqueia sua visão do gigantesco mar de novas aventuras que se encontra logo alí. Viver encrustrado em devaneios descrentes e decrescentes faz despertar cobiças, ilustrações a cerca da vida alheia, tornando essa sempre mais atrante e mais agradável do que a que tens. Não faz sentido apoiar-se na desistência, e aceitar ser apenas admirador de outrém, de suas conquistas, lamentar suas derrotas, e não despertar em si uma vontade de também aderir a luta. Os outros também tem problemas, e muitas vezes também olham a sua vida como um modelo perfeito a ser seguido. Estar satisfeito com suas criações é algo que foge ao voluntário, e passa a ser obtido após análises otimistas e determinadas, que visam valorizar seus feitos e instigá-lo a poder enumerá-los ainda mais. Olhar o lado bom da vida não é a única questão a ser trabalhada, ainda que tenha extrema importância na estruturação de uma visão de mundo mais consistente; entretanto, a busca principal deve se focar em enxergar o lado ruim sem priorizá-lo e saber, irrevogavelmente, que ele sempre exisitirá. Mas que nunca será forte o suficiente para arrebatar seus ganhos nem fraco demais para que você se iluda com uma vida utopicamente perfeita. Talvez existam abordagens mais eficazes correspondentes a cada intenção e disposição, no entanto em todos os casos dar o primeiro passo é sempre o mais árduo trabalho: ele é o mais sujeito aos tombos, mas é o único que pode conduzi-lo aos saltos.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

superficialmente perto.

Pelo que uma pessoa se apaixona?
Falamos de paixão com uma propriedade singular, como se dominássemos todas as possíveis variações desse sentimento. Como se compreendessemos cada detalhe que se esconde e já tivéssemos desvendado todos os mistérios que compreendem esse estado de espírito que é estar apaixonado. Mas, se por um instante, largarmos mão das complexidades e lançarmos um olhar indagante para o trivial, chegamos a conclusão que falta uma pequena, porém importante, parte no quebra cabeça: nos apaixonamos exatamente pelo que?
Há quem diga que é pela pessoa, em sua totalidade. Afirmam apaixonar-se até pelos defeitos, mesmo sabendo que a única prova disso é a capacidade de suportá-los e não de ter afinidade por algum. Falar em partes também não foge muito a regra: amamos cheiros, gestos, risos, abraços, vozes, beijos... tudo aquilo que provoca a sensação indescritível e incomparável que se instaura com a paixão. O ponto principal, aquele sempre existente motivador para que eu inicie algum tema, é a materialização. O contato físico foi, é e sempre será essencial nos relacionamentos, não na apelação obscena do termo, mas no caráter de trasmissão, de carinho e cuidados que só este pode proporcionar. Entretanto, há quem afirme com certeza que é possível amar a longa distância. Se essa afirmação me fosse feita há alguns meses atrás, o máximo que sairia de mim seria uma risada irônica e uma frase descrente. Porém, minha opinião atual diverge da passada e endossa a tese: é possível desenvolver sentimentos por pessoas que sequer conhecemos, de fato. A dúvida que ronda as relações tão distantes é quase sempre a mesma, identidade. Se a pessoa existe, se finge ser alguém que não é, e outras tantas indagações que querem dizer exatamente o mesmo. A principio, pensamos em 'n' possibilidades que envolvem critérios sérios, como segurança própria. Com o passar do tempo, acabamos encantados e envolvidos demais num mundo aparentemente fictício, mas que nos é muito mais sadio do que as tragédias do mundo real. Apaixonar-se é encontrar algo que proporcione um bem surreal, uma sensação de manhã ensolarada, um frio na barriga e todas aquelas velhas emoções sempre listadas quando o assunto é paixão. É entender o que antes não fazia sentido e ficar boba com coisas que você sempre julga criteriosamente utilizando a razão. Portanto, não há regras que englobem com perfeição a heterogeneidade existente na composição do todo no qual estamos inseridos. Apaixone-se por aquilo que fizer sentido para você, e quando alguém te questionar com perguntas sensatas demais para o momento, recomende apenas uma coisa: 'apaixone-se você também!'

segunda-feira, 23 de novembro de 2009


Uma busca deveria ser guiada por um objetivo. Quando a situação foge a esses padrões, se torna, no mínimo, inusitada. Correr atrás de nada é ainda mais complexo por não ter com quem compartilhar; ninguém além de você e seus pensamentos descontrolados conseguem ao menos fingir compreender toda essa loucura. O problema é a força que essa inomeável cena adquire, fazendo com que você continue, ainda que sozinha. A solidão começa a ser algo frequente, extremamente presente e ligeiramente agradável. Aos poucos você se esquece do que tem que sentir falta, e ruma ao seu alvo invisível, mas totalmente coerente a seu ver. Seu mundo, é isso que você cria e nele é barrada a entrada de qualquer um que não acredite completamente em sua existência: todos. E trancado nele só ficam você e suas loucuras, tão sadias quanto um enfermo as vésperas de partir. Não é voluntário entrar e sair vai um pouco além: é impossível. Escrever sobre isso se assemelha a biografias de manicômio, não que eu já tenha visto uma, mas apenas imagino o quão parecidas devem ser, com todas aquelas idéias desorganizadas que perambulam nas mentes dos internos. Mas desabafar é algo que ainda é permitido nesse mundo, que aos poucos está prestes a duas inevitáveis coisas: desabar ou solidificar-se. Não peço que leiam nem que se preocupem; não se deêm ao trabalho de tentar entender. Eu mesma, já desisti.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Eterno perde ganha.

O calor, o cansaço, o tédio e o ócio. Coisas que podem não pertencer a um mesmo campo semântico, mas que compõem um grupo preciso sintetizador de idéias. Talvez esse não seja o caso, mas o incômodo que essa segunda feira atípica, pelo menos na minha rotina estudantil, provocou é algo que merece seu relato devidamente expresso. Entretanto, entrelinhas há toda aquela velha complexidade de sempre, que não se contenta em ser simplória como os acontecimentos banais de pessoas comuns. Não, tem sempre que haver um cunho filosófico que embase o que eu estou prestes a escrever. E sim, isso acaba sendo muito chato na esmagadora maioria das vezes. Chato ou não, convém expor que por trás dos adjetivos mal pensados e críticas oriundas de mentes exaustas há problemas bem maiores do que a capacidade do nosso imaginário de cogitá-los. Solicitando o empréstimo de frases, o que se escondeu por trás do meu olhar vago durante a totalidade da inutilidade do dia se resume bem em 'o que obviamente não presta, sempre me interessou muito'. Relevando as particularidades e intenções de Clarisse Lispector, (pra quem não sabe, a autora da frase!) ao usar a expressão como síntese pessoal, deixo claro que há uma amplitude no significado do 'não presta' : não se resume a drogas, sexo e, porque não, rock'n'roll. Remete, muito mais, aquilo que não me pertence e nem tem motivos concretos para fazer parte do meu acervo pessoal. Desafios sempre atiçaram a mente humana a despertar o sentimento dotado de toda verocidade chamado desejo; alcançar aquilo que não temos é relativamente empolgante, mas alcançar aquilo que, por ventura, não podemos ter é ainda mais atraente. O problema é fazer um balanço dos benefícios e malefícios de tal cobiça e concluir que, se há um motivo para aquilo pertencer a outras mãos, é nelas que ele deve permanecer. Pensar assim não exclui tentativas nem desaparece com a empolgação do processo, mas apenas acrescenta uma pitada extremamente necessária de consciência. Vale aplicar aqui outra frase, cujo autor eu desconheço, mas agradeço muito pelo feito: não faça com o outro aquilo que não quer que façam com você. Aceite os fatos: os seus e os dos outros. Ceder e lutar são antônimos que podem, sim, coexistir.

sábado, 7 de novembro de 2009

Estar ausente, dói. Não só sentir o vazio deixado por alguém, mas principalmente se sentir alheio a coisas que antes eram suas é também um martírio. Se ver engajado em uma realidade específica torna as coisas comuns, e estar acomodado faz com que deixemos passar meros detalhes que só se intensificam na falta dos mesmos. Assistir da platéia o seu espetáculo é ser apenas observador da sua própria história. Muitos instintos nos levam a afastar pessoas, a mantê-las sempre no perímetro de segurança e barrar toda tentativa de romper suas barreiras automáticas. Mas, há algo que permite modificar essa configuração imposta: as nossas escolhas. "São nossas escolhas que revelam quem realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades"¹. Ninguém escolhe estar sozinho ou incapaz de compartilhar seus ganhos e fracassos; mas é totalmente resultado do que optamos se permitir viver, de fato, ou simplesmente pagar pelo camarote e admirar a construção de uma vida que jamais será realmente sua.




¹ - J.K. Rowling, by Albus Dumbledore in Harry Potter and the Chamber Of Secrets.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

fácil, extremamente...difícil!

E eu continuo a minha tese de que tempos difíceis deveriam vir com uma data de validade, pra amenizar a angústia se esta tiver data prevista para encerrar-se. No entando, noventa e nove por cento das minhas idéias não são tão prósperas e muito menos levadas a sério por alguém, sequer por mim. Mas em momentos tão complexos de se entender o curso das coisas e o porquê do mesmo, carregar consigo utopias além de um escape para o stress cotidiano é uma arma secreta contra aqueles que querem ofuscar sua chama de vida com todo o discurso sobre a realidade e suas dores. Entender como tudo carece explicação, como todos obedemos à uma tendência esquisita de complicar e, principalmente, como todos colaboramos tão expressamente para afastar as felicidades nos momentos mais oportunos não é nada fácil ! Pensar nisso tudo nos leva a crer que, ao contrário do que é a intenção teoricamente, caminhamos no caminho contrário a busca do nosso bem próprio! Se nos contentássemos em acreditar no que o outro diz, em não mentir para o tal outro, em deixar que as coisas aconteçam naturalmente sem querer retarda-las ou apressa-las, aí sim a órbita ao nosso redor seria plenamente favorável! Olhando assim parece até que nós, seres humanos, gostamos de tomar o caminho mais difícil... mas, peraí: é isso mesmo que acontece! E não há constatação científica, indicação de que seja pelo maior aprendizado obtido com os obstáculos, nem nada... o problema maior é que, de tanto nos preocuparmos em acertar, em agradar, ainda que sem admitir, acabamos pensando em detalhes demais, que sequer deveriam existir! Se um dia haverá alguém que conseguirá agradar em todos os quesitos, eu não sei. O que posso afirmar seguramente até agora é que, na atualidade em que vivemos, alguém com essa característica de unanimidade está longe, bem longe de existir! Não adianta se esforçar ao extremo para se encaixar nos padrões que alguém te impõe. A coisa é tão simples e perfeita que, ao encontrar alguém que mereça partilhar seus momentos, guardar seus segredos e complementar seus sentimentos, o encaixe vai acontecer naturalmente! E assim, com todas as suas manias, defeitos, teses e bobagens, a pessoa vai adorar gastar seu tempo com você! Fato que entender tais situações passa bem longe de colocá-las em prática, mas tentativas são o melhor caminho para o acerto, e tentar focá-las cada vez mais naquilo que se tem em mente é sempre a melhor solução. Enquanto não obtemos o tão buscado êxito, vamos nos contentando em ser meros seres humanos, recheados de erros e dispostos sempre a cruzar todo um oceano do que simplesmente atravessar a ponte.

terça-feira, 3 de novembro de 2009



Os espasmos de esperança, de que tudo que pode dar certo de algum modo irá dar. A vida pode não funcionar num mecanismo tão utópico como estes meus pensamentos, mas uma coisa é certa: ela é tão maleável quanto meus anseios conseguirem moldá-la. O produto bruto que compomos inicialmente é constantemente lapidado por rajadas de aprendizados, oriundos dos mais inesperados momentos, revelando mais uma vez que não há nada pré-determinado que resista a força e a intensidade da vontade verdadeira de construir algo melhor para o seu próprio amanhã. A plantação de cada um renderá frutos suficientes para saciar o mesmo, o que nos impede de plantar a mais esperando poder dividir ou plantar menos esperando poder receber. Somos donos dos nossos próprios destinos, o que não impede que façamos interseções com os de outrém; mas nada que mescle irreversivelmente o que está por vir para ambos. A nossa construção é marcada pelo erguimento de pilares primordiais, que tem em sua composição não apenas boas coisas, mas principalmente o aprendizado obtido em todas aquelas que não foram de caráter tão benéfico assim. Após fixadas as bases, começamos a dar forma ao passo que amadurecemos: escolhemos caminhos e pessoas para trilhá-los em nossa companhia. Mais uma vez, como em todas as etapas do processo, estamos sujeitos a erros no ato de optar por algo ou alguém, mas qualquer opção marcada irá trazer seus resultados. Um aprendizado efetivo na maioria das situações é o de tirar algo de útil de qualquer acréscimo de vivência. O dom de ensinar coisas complexas, como ciências, religião, política ou amores, não é tão comum como se pensa: as vezes, confundimos o saber contar suas experiências com o preparar alguem para passar por algo semelhante. Transmitir conhecimento de forma específica para a aplicação é algo que requer, acima de tudo, a mais sincera das vontades. No entanto, toda intenção de ajudar é válida, ainda que você não saiba como, com que palavras ou em que momento fazê-lo. Quando as coisas caminharem nesse eixo, opte pelas tentativas espontâneas; se não corresponderem as suas espectativas, ao menos terão saído do campo das idéias e terão colaborado para que, numa próxima vez, você obtenha mais êxito no ato de humanizar-se.