" Os desejos contrariam os conceitos físicos de força e todas as suas teses envolvendo massa e acelereção, mas asseguram seus preceitos quando o assunto é intensidade. A verocidade de um momento tão singelo aos olhos dos inocentes, mas carregado com todo sentimentalismo selvagem que se pode esperar de situações assim. Lembro-me vagamente daquele semblante, natural aos meus olhos, mas extremamente deslocado dos padrões de uma multidão. A calmaria se instaurou em mim com mais paradoxal força do que deveria e menos duração do que eu podia ter planejado previamente. A propósito, eu acabara por aprender que para permanecer ao seu lado, meus planos deveriam ser colocados num vazio juntamente com meus medos e anseios. Seus vícios me encantavam de uma forma tão revoltante, que entendimento passava longe de ser algo que eu dominasse naquele momento. Uma fúria boa, um sentimento inequiparável a quaisquer outros nomes que eu ou você conseguissemos pensar. Se era sua negligência que me atraía a você, não sei. Seus olhares rispidos, desprovidos de qualquer sentimentalismo banal de fato me encantavam. Aventuras e surpresas sempre me interessaram mais que cartões e declarações que tinham sempre curtíssimo prazo de validade. Talvez fosse por esta razão que meu corpo se encontrava alí, estático, desobedecendo os instintos de segurança que me ordenavam sair daquele manto negro banhado a árvores e solidão. Não havia muito a que se escutar, a não ser a sua respiração mesclada ao seu desprezo, mas acoplada a suas ordens implícitas em seus olhares, que queriam me conduzir sempre pra mais perto. O suor evidenciava seu medo, mas em sua totalidade jamais deixaria transparecer qualquer sinal de insegurança. Mais uma coisa a qual me admirava era sua capacidade de ofertar aconchego, não com carícias, mas com atitudes reais nem tão carinhosas quanto se convêm ser. No fundo eu sabia e me importava com o fato de que havia deixado preocupados meus amigos e entes queridos, mas um pensamento maior ofuscava minha veia de consciência, e me fazia, por alguns instantes, esquecer minha vida e tudo que lhe dizia respeito. A negritude no firmamento começava a se desfazer, e meu estado petrificado ainda não havia se modificado. Foram horas apenas nos entreolhando, como quem busca ver algo. Ou apenas senti-lo. Meus sentidos aguçados, mas todas minhas dores e vontades biológicas firmemente ignoradas. Eles só funcionavam para observar, e nada fazer. Quando o primeiro raio de sol incendiou os fios avelã de seus cabelos, num sorrateiro movimento, tudo desapareceu. Sua ausência desbancou toda a realidade e esmagou meu momento utópico: estava sozinha, no desconhecido, com um sentimento de êxtase ainda pulsando nas lembranças da sua presença, mas não havia nada alí que fosse hospitaleiro. Não sabia como voltar, as vezes me fugia a sanidade até meu local de origem. Tantas eram as incertezas que preferi me apegar na única coisa que, naquele momento, parecia me fazer sentido: eu precisava tê-lo mais uma vez. "
Sessão "publicando as obras não publicáveis". Divirtam-se, ou somente aguardem a volta dos posts reflexivos (:
2 comentários:
Comecei a ficar preocupada... ainda bem q é só posts neeeeehhhh
ass: mamae
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