eu quis falar
mas as lâminas do teu silêncio me vieram cortar
as falas turvas que eu ousaria balbuciar.
eu quis tentar
mas relutar sobre a derrota nunca foi meu dom
nos demos por vencidos, mudamos de tom
a espreita da espera daquele velho som
eu quis fazer
mas seu olhar condenador me levou a hesitar
e repensar sobre os meus feitos e me condenar
e me entender de outro jeito e me estranhar.
eu vivi tanto tempo dentro do seu calabouço, calada.
presa nas suas armadilhas, nas mais embaraçadas.
eu vi perigo, fiz necessário toda a cautela do mundo
pra frear suas vontades e preservar minhas verdades.
você rastejava lento, deslizando sobre o meu suor
minha labuta te trazia frutos, mas me deixava só
entristecia-se mas nem sequer pensava em me libertar.
a confusão pairava sobre suas asas de anjo mal
suas respostas fugiam de você, mas fingia bem não haver dor.
o sofrimento não te alcançara, mas um dia te derrubaria.
no tão esperado momento, eu estaria lá
não para trazer seu acalento, nem para ajudá-lo a levantar.
passaria sobre sua carcaça no chão, espantaria os urubus
não te desejo mal, e nem a eles.
e prosseguiria vendo-lhe quebrar minhas algemas invisíveis
e sairia, perene, como quem vence uma batalha; e eu venci.
olharia uma última vez, e apenas duas coisas me acompanhariam
o sorriso incessante e a promessa de nunca mais voltar
nem sequer a fixar meus olhos nas suas lanternas infernais.
eu me liberto, e te prendo ao buraco que cavastes.
alimente-se do seu próprio veneno, e sinta-o penetrar em seu íntimo.
quando acabares, procura-me: eu ainda estarei sorrindo.
2 comentários:
poxa, da pra postar uma coisa não tão boa ?
dai eu não tenho que fica repetindo toda vez que tá lindo ;O
Vc e sensacional!
mamae
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