A rejeição não é uma realidade restrita, mas sim coletiva até demais. Entretanto, quando nos deparamos com tal, acreditamos fielmente sermos os únicos nesta triste situação. Não diferente do esperado, um homem entristeceu-se ao longo da vida, sem saber o porque, mas com suposições tristes o suficiente para deixá-lo também magoado. Quando ainda jovem, ouvia com frequência as comparações maldosas das pessoas, afirmando serem muito melhores que ele. As vozes ásperas pronunciavam arrogância e soberba ao preferirem a si do que ter de olhar para o pobre jovem. Incomodado com aquela situação, o garoto descobriu o que acreditava ser a solução para os seus problemas: iria ser aquilo que as pessoas gostariam de ver. Sem pensar duas vezes, tomado pela esperança de ser aceito, revestiu todo seu corpo com espelhos, impedindo que as pessoas vissem algo diferente de seu próprio reflexo quando lançassem seus olhares críticos sobre o rapaz. Passou semanas trancafiado em sua residência, sentindo as dores e o ardor da goma escaldante utilizada para pregar os espelhos em si, mas assim o fez. Durante todo esse processo, um flashback passava continuamente por suas ideias, relembrando o quanto fora desprezado e também o quanto seria aclamado por, finalmente, conseguir agradar a todos. Em meio a tamanha utopia, terminou sua obra prima e saiu, orgulhoso e ansioso para presenciar o sucesso de sua ideia. Como o menino imaginou, ao dar o primeiro passo fora de suas dependências, já foi contemplado com sorrisos variados das pessoas se admirando ao se verem desenhadas ao longo do jovem. E assim aconteceu durante os primeiros dias, primeiras semanas e até mesmo meses; não havia um só cidadão que não deixasse escapar um sorriso entre os dentes cerrados ao se deparar com aquilo que havera se transformado o antes tristonho rapaz. Porém, em um dia como qualquer um daqueles felizes que ele havia desfrutado, o jovem percebeu que os sorrisos começaram a perder-se em feições preocupadas. As pessoas não mais olhavam com total alegria, mas sim com certa desconfiança, como quem procura entender algo que não lhe parece nos conformes. Então, a incerteza tornou-se um hábito dos observadores e trouxe ao menino uma angústia por não saber o que fizera tudo mudar. Todos os espelhos permaneciam no mesmo lugar, não havia frestas para que se pudesse vê-lo sob eles - afinal, foi a primeira hipótese levantada pelo menino para que as pessoas estivessem tão incomodadas. Ele passou então a observar melhor o comportamento que assolava os homens e mulheres daquele lugar. Acabou por perceber que a análise crítica estava sendo exatamente para o que viam: deixavam de envaidecer-se pela beleza refletida e começavam a enxergar o seu verdadeiro eu. Como foi notado, o que viam não estava agradando; era como se o espelho deixa-se transparecer as maldades realizadas, as palavras impiedosas pronunciadas e o perdão não concedido. Era como se todas essas premissas distorcessem toda e qualquer beleza que pudesse existir naqueles corpos, e revelassem-nos como verdadeiros monstros, capazes das mais inimagináveis atrocidades contra seus semelhantes. O rapaz ficou curioso para saber se o mesmo acontecera com eles, mas ao tentar se ver notou que havia um decisivo impecilho: o rapaz já não conseguia mais enxergá-lo. Foram tantos espelhos adicionados, que sua visão de si ficou prejudicada a ponto de não poder ser feita. Desesperado, tentou retirar todos aqueles adereços de si, mas todo esforço foi em vão pois parecia haver uma força sobrenatural que mantivesse-o ali, naquela impotente situação. Percebendo o entristecimento geral da população, resolveu comunicá-los de seus feitos e tentar ajudá-los a resgatar a alegria que encontravam em si. Subiu, com muita dificuldade, em um palanque na praça central e começou o seu discurso: " Ontem, vocês viam em mim algo tão inferior que causava-lhes felicidade por serem diferentes. Hoje, para alegrá-los, resolvi me transformar exatamente naquilo que mais lhes agradava: vocês mesmo. Mas, para minha surpresa, vocês se tornaram pessoas tristes, como eu era, por perceber o que realmente são. Na minha tentativa de agradá-los, acabei me apagando de mim, e hoje já não sei o que ou quem eu sou. Só tenho a dizer-lhes que nunca é tarde para mudar o que não lhe agrada; sempre é tempo de ser justo, ser bom e honesto. Ajudar o próximo ajuda a embelezar a alma, mas faça isso sempre dentro de suas possibilidades, pois se acabarem prejudicando a vocês próprios, nenhuma felicidade conseguirá prosperar. Agora, me orgulho de mim, mas infelizmente não posso enxergar isso em meus próprios olhos. Vocês, que ainda podem, revivam suas bondades e desfrutem das mais belas imagens que seus olhos possam ver: a beleza do bem e do amor.". Com essas palavras, como num passe de mágica, todos os espelhos começaram a desprender-se, um a um. As pessoas que ouviam atentamente as palavras do jovem, viram seu verdadeiro eu reluzir por entre os espelhos até que finalmente puderam conhecer o rapaz responsável por tudo aquilo. O medo no coração do rapaz rapidamente se evadiu, pois, ao observarem-no, as pessoas acenderam sorrisos e olhares de felicade. Ao conhecê-lo, as pessoas puderam conhecer também a importância da verdade e que não é possível sustentar uma vida mantida por aparências e carente de honestidade. Desse dia em diante, os sorrisos não estavam mais condicionados às imagens, mas sim a alegria nos corações e nas almas das pessoas que alí viviam.
domingo, 1 de abril de 2012
O que se vê?
A rejeição não é uma realidade restrita, mas sim coletiva até demais. Entretanto, quando nos deparamos com tal, acreditamos fielmente sermos os únicos nesta triste situação. Não diferente do esperado, um homem entristeceu-se ao longo da vida, sem saber o porque, mas com suposições tristes o suficiente para deixá-lo também magoado. Quando ainda jovem, ouvia com frequência as comparações maldosas das pessoas, afirmando serem muito melhores que ele. As vozes ásperas pronunciavam arrogância e soberba ao preferirem a si do que ter de olhar para o pobre jovem. Incomodado com aquela situação, o garoto descobriu o que acreditava ser a solução para os seus problemas: iria ser aquilo que as pessoas gostariam de ver. Sem pensar duas vezes, tomado pela esperança de ser aceito, revestiu todo seu corpo com espelhos, impedindo que as pessoas vissem algo diferente de seu próprio reflexo quando lançassem seus olhares críticos sobre o rapaz. Passou semanas trancafiado em sua residência, sentindo as dores e o ardor da goma escaldante utilizada para pregar os espelhos em si, mas assim o fez. Durante todo esse processo, um flashback passava continuamente por suas ideias, relembrando o quanto fora desprezado e também o quanto seria aclamado por, finalmente, conseguir agradar a todos. Em meio a tamanha utopia, terminou sua obra prima e saiu, orgulhoso e ansioso para presenciar o sucesso de sua ideia. Como o menino imaginou, ao dar o primeiro passo fora de suas dependências, já foi contemplado com sorrisos variados das pessoas se admirando ao se verem desenhadas ao longo do jovem. E assim aconteceu durante os primeiros dias, primeiras semanas e até mesmo meses; não havia um só cidadão que não deixasse escapar um sorriso entre os dentes cerrados ao se deparar com aquilo que havera se transformado o antes tristonho rapaz. Porém, em um dia como qualquer um daqueles felizes que ele havia desfrutado, o jovem percebeu que os sorrisos começaram a perder-se em feições preocupadas. As pessoas não mais olhavam com total alegria, mas sim com certa desconfiança, como quem procura entender algo que não lhe parece nos conformes. Então, a incerteza tornou-se um hábito dos observadores e trouxe ao menino uma angústia por não saber o que fizera tudo mudar. Todos os espelhos permaneciam no mesmo lugar, não havia frestas para que se pudesse vê-lo sob eles - afinal, foi a primeira hipótese levantada pelo menino para que as pessoas estivessem tão incomodadas. Ele passou então a observar melhor o comportamento que assolava os homens e mulheres daquele lugar. Acabou por perceber que a análise crítica estava sendo exatamente para o que viam: deixavam de envaidecer-se pela beleza refletida e começavam a enxergar o seu verdadeiro eu. Como foi notado, o que viam não estava agradando; era como se o espelho deixa-se transparecer as maldades realizadas, as palavras impiedosas pronunciadas e o perdão não concedido. Era como se todas essas premissas distorcessem toda e qualquer beleza que pudesse existir naqueles corpos, e revelassem-nos como verdadeiros monstros, capazes das mais inimagináveis atrocidades contra seus semelhantes. O rapaz ficou curioso para saber se o mesmo acontecera com eles, mas ao tentar se ver notou que havia um decisivo impecilho: o rapaz já não conseguia mais enxergá-lo. Foram tantos espelhos adicionados, que sua visão de si ficou prejudicada a ponto de não poder ser feita. Desesperado, tentou retirar todos aqueles adereços de si, mas todo esforço foi em vão pois parecia haver uma força sobrenatural que mantivesse-o ali, naquela impotente situação. Percebendo o entristecimento geral da população, resolveu comunicá-los de seus feitos e tentar ajudá-los a resgatar a alegria que encontravam em si. Subiu, com muita dificuldade, em um palanque na praça central e começou o seu discurso: " Ontem, vocês viam em mim algo tão inferior que causava-lhes felicidade por serem diferentes. Hoje, para alegrá-los, resolvi me transformar exatamente naquilo que mais lhes agradava: vocês mesmo. Mas, para minha surpresa, vocês se tornaram pessoas tristes, como eu era, por perceber o que realmente são. Na minha tentativa de agradá-los, acabei me apagando de mim, e hoje já não sei o que ou quem eu sou. Só tenho a dizer-lhes que nunca é tarde para mudar o que não lhe agrada; sempre é tempo de ser justo, ser bom e honesto. Ajudar o próximo ajuda a embelezar a alma, mas faça isso sempre dentro de suas possibilidades, pois se acabarem prejudicando a vocês próprios, nenhuma felicidade conseguirá prosperar. Agora, me orgulho de mim, mas infelizmente não posso enxergar isso em meus próprios olhos. Vocês, que ainda podem, revivam suas bondades e desfrutem das mais belas imagens que seus olhos possam ver: a beleza do bem e do amor.". Com essas palavras, como num passe de mágica, todos os espelhos começaram a desprender-se, um a um. As pessoas que ouviam atentamente as palavras do jovem, viram seu verdadeiro eu reluzir por entre os espelhos até que finalmente puderam conhecer o rapaz responsável por tudo aquilo. O medo no coração do rapaz rapidamente se evadiu, pois, ao observarem-no, as pessoas acenderam sorrisos e olhares de felicade. Ao conhecê-lo, as pessoas puderam conhecer também a importância da verdade e que não é possível sustentar uma vida mantida por aparências e carente de honestidade. Desse dia em diante, os sorrisos não estavam mais condicionados às imagens, mas sim a alegria nos corações e nas almas das pessoas que alí viviam.
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