
Nada de equações biquadradas, nem funções exponenciais. Difícil mesmo é permanecer sem produzir uma linha sequer diante de tantas informações se debatendo nessa massa cinzenta. Aqueles que denominam o hobby de escrever como um dom desconhecem a dimensão dos 'efeitos colaterais'. Entender de onde surgem as idéias, se há algum propósito ou se são só meros passatempos... curiosidades insaciáveis que vem de brinde às poucas palavras jogadas entre os tantos pensamentos. Como numa convencional quinta a noite, onde o frio da janela se contrasta com a fumaça do leite quente e, junto a esta mistura, estão meus pensamentos sobre a normalidade das coisas. As vezes questiono o sucesso alheio, não totalmente por inveja, mas por algo que eu prefiro, talvez por desencargo de consciencia, classificar como indignação. É injusto designar um reconhecimento aleatório, pois devem haver tantos melhores do que aqueles que conquistaram seu lugar ao sol. Nem de longe ouso desmerecer os que chegaram lá, mas e aqueles que não tiveram a chance de sequer ingressar na caminhada, e se fossem mais talentosos do que os demais? Correr atrás das oportunidades parece o discurso batido das borboletas, exceto pelo fato de que não há - pelo menos eu, desconheço - jardim a ser cultivado para que elas pousem pacificamente sobre tal. Sorte e azar podem impedir a ascenção daqueles que possuem todo potencial para alcançá-la. Impossível fazer desse trecho de bobagens noturnas um discurso impessoal, pois eu penso sim que se pudesse ser ouvida - ou lida, no caso - pelas ditas ''pessoas certas'' poderia estar em outros patamares. Mas não pensem vocês que descarto a possibilidade de só escrever textos tediosos e estar iludida quanto as minhas capacidades, como aquelas pessoas que mal sabem diferenciar uma bola de golfe de uma bola de futebol, mas sonham em ser ídolos do esporte por incentivo familiar. Sei que posso agradar apenas a mim, mas o interessante é que isso me basta. Talvez seja por essa fácil saciedade que meus horizontes se limitem a um blog com postagens abandonadas. É aí que surge a grande questão de quem devemos agradar. Pessoas importantes que, por exemplo, se destacaram pela escrita, comentam com frequencia em entrevistas que tiveram muitas partes ocultas de suas obras para uma ''adequação literária'' que fizesse sucesso. É como ter um filho e precisar de umas cirurgias plásticas aqui e alí para que ficassem nos moldes do gosto da maioria. Mas pra nós, genitores, são criações perfeitas que não carecem de uma modificação sequer. E, se esse é o preço a ser pago para ter reconhecimento, é preferível permanecer no anonimato mergulhada em obras originais, intactas, que transmitam realmente aquilo que me coube transmitir pelas palavras. Escrever às pessoas certas não deve significar apresentar os seus trabalhos a pessoas influentes, que podem fazer deles um best-seller. Na verdade, tudo está embasado em escrever para quem admira de verdade aquilo que lê - e, se der sorte, alguém que entenda o que você quis dizer. Ser admirado não é um parâmetro quantitativo, pois mais vale uma pessoa que verdadeiramente gosta do que você faz do que uma multidão gritando por um nome que mal sabem pronunciar - muito menos o significado. O primeiro e mais importante reconhecimento é o que você precisa ter consigo, sabendo o quão foi árduo o caminho até alí e até quais horizontes ele lhe permite chegar.