
Livres e imparáveis, cortando o vento e pairando sobre águas desconhecidas. Pássaros são independentes, admiráveis e quase sempre estão ao alcance de nossos olhos, mas distantes de nossas mãos. Alí, no lado debaixo do céu, acima de nós e abaixo da futura moradia, apresentam-se exuberantes, convertendo seus admiradores a fãs incontestáveis das belezas que pronunciam silenciosamente em suas movimentações. Voam seguros, ainda que nem sempre certos. Voam velozes, ainda que nem sempre com rumo fixo. Tentamos aprisioná-los entre vigas de aço frio, impondo obrigações na tentativa de capturar seu canto, ganhando em troca seu amargurado silêncio. São criações exclusivas, como todos os outros seres, merecedores de reconhecimento e de classificação carnal, passíveis de falhas e deslizes. Podem errar feio buscando os acertos, podem ter sentimentos turvos, condutores de atitudes desagradáveis; podem magoar, podem ferir. Ainda presos, podem ser revoltos, ou simplesmente pacíficos inexplicáveis. Podem apagar a chama da alegria de suas vidas, e viverem à meia-luz, regados de barreiras e limitações. Podem apegar-se a erros, escolherem trilhas que culminem em paisagens desagradáveis, mas ainda assim se mantem de peito erguido, orgulhosos e parrudos como são por natureza. Vivem uma vida arriscada, colecionam feridas que jamais deixam cicatrizar pelo simples prazer de reviver cada batalha. Mesmo com seu comportamento semelhante ao soberbo, constroem vínculos com seres diversos, despertando nestes a necessidade de ampará-los, obviamente sem que manifestem tal vontade. Precisam de cuidados, mas não possuem tamanha humildade de solicitá-los. A jornada pode ser longa ou breve, variando em função dos caminhos percorridos, das condutas adotadas, das cicatrizes adquiridas.. bem como é com qualquer um de nós. Os momentos de dor não são excluídos por seu porte inflexível e aparecem curvando a força toda dureza construída durante a vida. Àqueles que se aproximaram ao longo da jornada curvam-se junto, tentando aliviar a dor que torna-se tão acentuada quando em alguém tão contido. Vemos então mãos de luz tocarem aquela criação, e torcemos arduamente para que ela alivie todo e qualquer sofrimento, permitindo-o voar por estes ou outros ares. Nesse momento, as limitações do céu se fundem e tudo passa a ser um só, tomado pela claridade de boas energias e fé. Seguimos rezando para que o melhor se cumpra e preserve toda a exuberância desses pássaros e que, sadios, eles possam desbravar os horizontes, nos encantando e fazendo com que possamos acreditar nos milagres e na beleza da vida.
Hoje um pássaro ferido está nas mãos de Deus, e sua família está aqui torcendo para que o melhor seja feito, seu sofrimento seja evitado e sua felicidade plena seja garantida! Deus te abençõe, tio.